sábado, 25 de abril de 2009

Era assim... há 35 anos atrás!


Se recuássemos trinta e cinco anos, não reconheceríamos Portugal e, de certo, o Aprendisses não passaria de um projecto simples do meu intelecto delirante. Talvez nem me lembrasse disso, dada a “trela curta” que tinham os viventes na época.

Em lugar de Liberdade, havia uma ditadura. Em lugar de actividade política, associativa e sindical, existiam a PIDE e os presos políticos. A Constituição não garantia os direitos dos cidadãos… Portugal mantinha uma Guerra Colonial e afastava-se cada vez mais da tela internacional. Não existiam eleições livres e a única organização permitida era a União Nacional/Acção Nacional Popular. Quem ousasse opor-se ao regime autoritário de António Oliveira Salazar e, mais tarde, de Marcelo Caetano, era perseguido até às últimas instâncias pela PIDE e forçado a agir na clandestinidade ou exilar-se.
Fazia-se uma censura prévia que ia desde a Imprensa (o tão afamado “lápis azul”) ao Cinema, do Teatro à Música e das Artes Plásticas à Escrita. Seria impensável naquela altura presenciarmos a imensa proliferação de blogues a que assistimos. Contrariamente ao que dizia o Anónimo-das-não-sei-quantas-horas um destes dias, os blogues são, de facto, locais onde a Liberdade é a palavra de ordem. A esta hora, há trinta e cinco anos atrás, provavelmente estaria nuns quaisquer calabouços de uma qualquer prisão do país…

Imaginar como seria Portugal antes de 25 de Abril de 1974, torna-se uma tarefa dantesca. Começando por mim, não consigo conceber a minha realidade sem poder dizer e escrever (quase) tudo o que penso. Impensável! No entanto, quando imagino que muitos discos e livros ficavam cativos, que certos bens de consumo não se podiam importar, que sobre os rapazes de 18 anos pairava o fantasma da guerra, que eles e elas tinham espaços destinados e bem delimitados, a coisa torna-se mais fácil. A Mudança era inevitável! Quão corajosos foram aqueles militares… Duvido que, em pleno século XXI, sejamos tão arrojados. O mais extraordinário é que o fizeram sem cometer atrocidades e lutando apenas com flor tão simples como o cravo. Foi um dia memorável com uma página gloriosa da nossa História a ser escrita nas mais belas palavras de patriotismo...

Hoje, 25 de Abril de 2009, Medo e Opressão são conceitos do passado. O recolher obrigatório é uma miragem. Temos “carta de alforria”, a luta foi ganha e nós, temos o que os nossos avós nunca tiveram nos seus tempos de juventude: Liberdade, para tudo e mais alguma coisa…

1 comentário:

  1. "A banalização a que a palavra "fascismo" tem vindo a ser sujeita é perigosa. Antigos antifascistas dizem que estamos pior do que no fascismo. Outros acusam o primeiro-ministro de ser "fascista". Isto é mistificar, baralhar, confundir - e desonrar os que sofreram na pele o fascismo. Pode e deve criticar-se o estilo, o método, o princípio e os fins de qualquer governação. Mas o fascismo, lembram-se? Era a miséria eternizada, de pé descalço, de pais para filhos. Era a PIDE, o Tarrafal, Caxias, gente presa e torturada a meio da noite só por pensar de outra maneira. Eram os livros e filmes proibidos, as mulheres impedidas de dar um passo sem a assinatura de um pai ou marido, a guerra colonial obrigatória, a amputação, a morte. Lembram-se?

    Não, já não se lembram. Depois não se espantem com o desprezo dos mais novos pela política (patente num estudo do "Expresso", edição de 5/1/2008). Vinte por cento da geração nascida com a revolução nunca votou. Metade desta geração não se interessa por política. Salazar foi o triste fruto de um povo assim - abúlico. Não, Sócrates não é Salazar - e, felizmente, nunca o poderá ser. Foi eleito, presta contas aos eleitores, e um dia será substituído por outro ou outra, através do voto, secreto, universal, democrático. Brada-se que há medo, medo - e é deste modo que o medo, esse vírus mortal da razão crítica, se instala."

    Com o teu texto fui repescar este excerto de uma crónica da Inês Pedrosa no Expresso. Porque há quem se esqueça o que foi e que queiram confundir com aquilo que se passa hoje.

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