terça-feira, 29 de novembro de 2011

A Espera do Advento



Ao entrarmos no tempo do Advento somos confrontados com uma atitude que este tempo evoca e sugere para o itinerário crente. Não só nestas quatro semanas, mas como proposta contínua para aprendermos a viver a vida entre e o imediato e o que ainda não veio, o instante fugaz e a oportunidade do saboreio, a pressa que nos atravessa e a espera silenciosa daquilo que se aninha no coração mas que se sabe ainda por vir.

A espera gera no interior do coração uma tensão. Que não precisa ser desesperadora. Pode ser uma espera sadia. Se esperamos, deseja-se que o coração se encha daquele bem ou daquele dom que permite ao tempo andar mais devagar. Esperar capacita a nossa atenção. Permite prestar atenção aos detalhes. Ouvir o que o coração sente nesse tempo de expectativa.

Vivemos hoje num tempo em que as pessoas desaprenderam a espera. Não sabemos e não queremos esperar. Desejamos o imediato. O que está pronto. O que pode ser servido e consumido no instante mesmo que a duras penas. Ninguém espera. Esperar enche o coração das pessoas de tédio. Porque precisam estar permanentemente ocupadas ou o coração pode parar. Perdemos a capacidade de esperar.

A nossa incapacidade para a espera, para o caminho demorado, o processo que se faz e conquista, atira-nos tantas vezes para o território da dependência. Tornamo-nos dependentes das necessidades que a todo o custo queremos satisfazer. O tempo da espera é tempo de liberdade. Aprendemos a ser livres com as esperas necessárias e inevitáveis, as impostas tantas vezes, as desejadas, as mais demoradas ou as menos entediantes. Todas elas podem proporcionar-nos caminhos de liberdade. Em que o coração se alarga. E os horizontes abrem-se para além do nosso umbigo.

Aprender dos nossos tempos de espera. Escutar o coração e os sentimentos que nos visitam quando esperar começa a ser tenebroso. Quando aquela pessoa querida não vem. Quando aquele desejo mais íntimo tarda em realizar-se. Quando aquele projeto teima em não sair do papel. Ou quando o aguardar silencioso se converte em alegria transbordante porque se realizou o desejo. O que o coração sente nesses momentos?

O Advento obriga-nos a considerar esta atitude fundamental na nossa vida. Esperamos que o Natal aconteça. Que o mistério de um Deus que vem ao nosso encontro se desvele na vida e nos caminhos que fazemos. Esperar, preparando o coração para que esse encontro tão desejado nos encante e desafie. E nos abra horizontes novos. Esperar Deus que se deixa encontrar e que na simplicidade de um menino nos pede um encantamento sempre maior pela vida. Porque afinal Deus vive no meio de nós. Um menino nos foi dado. E de alegria e de cor encheu-se a terra inteira.

Esperamos. Na esteira de um povo que aguardou silenciosamente que a palavra profética se realizasse. Um longo tempo de espera. Permeado por tantas infidelidades. E também por muitos caminhos felizes. Com Deus no horizonte. Até que um dia esse Deus fez-se Emanuel. Deixou-se encontrar depois de tanta espera.

Podemos viver este tempo de Advento como oportunidade para recuperar a nossa capacidade de esperar. Esperar Deus que vem ao nosso encontro. Preparar o coração e permitir que esta espera silenciosa o aqueça interiormente. Deus vem ao encontro do coração de cada um para nele se deixar acolher. Aconchegar-se na simplicidade e na fragilidade do nosso ser. Podemos fazer do coração humano a manjedoura onde o Emanuel habita. E sairmos desse encontro habitados pelo mistério. O mistério de Deus que também nos deseja e nos espera. Somos desejados de Deus. Deus espera-nos. Somos escolhidos, amados, valiosos. Deus espera que a vida-semente plantada no coração de cada um se desdobre num mar de possibilidades que o caminhar se encarregará de desvendar e realizar.

Podemos igualmente viver este tempo de Advento como espera do outro. Esperar o outro que também nos visita com a sua proximidade, a sua ausência, os seus desconsolos, as suas trivialidades; esperar pelo coração do outro que se manifesta e se retrai no ritmo dos dias. Acolher no coração a espera do outro que se manifesta em desilusão, desconsolo, angústia e perda de sentido da vida e dignidade. Esse acolhimento pode tornar a espera menos difícil de suportar.

Em tempos socialmente instáveis há esperas que deixam o coração do semelhante ainda mais angustiado. A espera do trabalho que não aparece. Do salário que não é suficiente. Da refeição que não chega para todas as bocas. Da ajuda que nem sempre vem. O tempo do Advento obriga-nos a esperar com os desesperados, aqueles a quem a vida deixou de sorrir. Tantos irmãos sem nome que aguardam uma companhia e um conforto para a noite fria que lhe invade o coração.

Esperar em tempo de Advento. Possibilidade de alargar os horizontes do coração e da vida toda. A espera por um Deus silencioso e terno-menino faz com que cuidemos do tempo das esperas. Afinal a vida toda é só espera. Ativa, vigilante, comprometida, singular. Como singular e feliz o encontro entre Deus e o coração humano que encheu de sentido tantas esperas e deixou no coração de cada pessoa o desejo de encontrar Aquele que a todos espera para a festa da alegria.

P. Manuel Afonso de Sousa, CSh

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