Silêncios significantes

Se há momento em que se faz silêncio é na altura de rezar. Por mais atribulado e difícil que tenha sido o dia, o tempo de oração é um tempo de paragem, tempo de retemperar forças, tempo para descansar dos cansaços do Mundo. Um momento de extrema intimidade com Deus….!
Em Taizé admirei-me com o ruído silencioso como três mil pessoas, na sua maioria jovens, se conseguiam acomodar, sentados no chão de uma igreja, apenas e só para rezar. Admirei-me como conseguiam fazer silêncio por mais de dez minutos, seguidos! Mais que isso: todos em silêncio, transbordavámos significados para Ele.

Desculpem se vos cheira a beatice, mas rezar é absolutamente fantástico… Não falo da repetição massiva de “Avé-Marias” e “Pais-Nosso”! Normalmente, nem prestamos atenção ao que dizemos – interessa chegar ao fim o mais rápido possível, porque o tempo para rezar é sempre muito pouco, há sempre mais e muito que fazer. Esta Oração de falo é mais que isso! É uma conversa com Deus, uma conversa onde não precisamos de esconder palavras ou mascarar sentimentos.
Ontem, durante a habitual Missa de domingo, calhei a ficar num lugar diferente, a ver “as coisas” de outro ponto de vista… Ao meu lado estava sentado um homem. Aparentemente, igual a todos os outros que por ali se encontravam. Porém, uma coisa o distinguia: o Terço, que lhe pendia das mãos calejadas do trabalho campestre.

Enquanto o observava, reparei que os dedos não deslizavam sobre as contas… mas, em surdina, ele rezava de facto! Ao mesmo tempo, mesmo ali ao lado, duas mulheres falavam da vida alheia… Olhou para mim, olhou para elas e abanou a cabeça em sinal de desaprovação. Depois, encolheu os ombros e olhou para o Terço de novo, absorto de todos os pensamentos. Fiquei a pensar na lição que aquele homem simples me acabara de dar: é na simplicidade das pequenas coisas que reside a essência de Deus… As mãos que seguravam aquele Terço concerteza teriam já vivido muito sem nunca deixar Deus de lado, mesmo neste Mundo onde há lugar para tudo menos para Ele...