domingo, 26 de julho de 2009

Aprender com...

Em mais um Domingo, volta o Aprender com... e eu, logo logo atrás dele. Hoje quem nos fará aprender é o Sérgio, um dos seguidores deste blog. Estudante de Psicologia, este senhor (sim, é um senhor!) é sempre muito atencioso e está desperto para os mais ínfimos pormenores. Podemos encontrá-lo, todos os dias e a todas as horas no Sempre Podemos Re-Começar, mas para já, ele está aqui:


APRENDER COM...
O ARCO-ÍRIS


Nesse mundo ocidental, pautado pelo EXCESSO de individualismo, o amor ao próximo esfriou. Não que em tempos remotos esse amor fosse maior. Até porque creio que o amor seja uma construção cuja compreensão só se tem com certa maturidade. Maturidade que não necessariamente está ligada à idade cronológica. Amor em minha visão está intimamente ligado com o cuidar. Aquele cuidar quase artesanal, como de um homem que molda sua argila e vai dando forma àquele amontoado de terra sem forma. E com muito cuidado e tato vai transformando o material em uma obra de arte. O amor é sublime tal como os dedos do artista referido.

Falo ao amor em seu grau mais puro, e não o banalizado dos comerciais ou dos poemas feitos de versos jogados ao vento e das canções pop ou de samba ou coisas do género. O amor tem como característica ser uma construção. Amar é cuidar, mas também é estar desprendido do que amamos, no sentido de criar condições para o cuidar e para o desenvolvimento daquele ser, seja o amor por uma mulher, por um homem, por um filho, por um amigo, por animais, todos em diferentes contextos porém com aquele diferencial. Um sentimento ligado ao de servir dinâmica e ativamente, cuidar. Servir não no sentido de ser escravo submisso, mas de ser cuidador ativo.

Hoje em dia a coisa "degringolou". Bem, poderíamos falar sobre liberalismo, capitalismo etc para ampliarmos o quadro contextual sócio-histórico desta ênfase atual na individualidade. Como não temos tempo nem espaço, vamos mais diretamente ao assunto. O individualismo pode ser visto explicitamente sem sair de casa, ou em qualquer lugar no qual exista uma televisão ou na rua mesmo. Já reparou que as propagandas publicitárias nunca falam no plural? O locutor sempre fala, por exemplo: Você mais feliz com o novo xampu anti-transpirante que é desodorante e xampu ao mesmo tempo... Ou entao, Você mais seguro com Paletó pó pó pó, o único paletó que é colete salva-vidas e vem com pára-quedas, ou então você mais confortável com o sabão em pó Denguinho do Bebe... ou Você mais satisfeito com seu cartão de crédito... Você e sua família etc.

Desejo passa a ser confundido com necessidade. Vendem-se desejos e fazem- nos acreditar que necessitamos daquele produto (Rohden em ‘"O Caminho da Felicidade" narra uma curiosa conversa que ele teve com um publicitário sobre esse assunto). Como consequência disso, naturalizamos nosso olhar (naturalizar em termos de alienação da ideologia vigente), no qual o outro passa a ser visto como um produto (coisificação) – realize os meus desejos ou te troco por um modelo diferente e mais moderno. Sim, ao que parece, os relacionamentos humanos atingiram o ponto de se assemelharem á compra e troca de produtos, como se estivéssemos sempre no aguardo de que um novo e revolucionário produto adquirido satisfaça todas as necessidades (confundidas com desejos). (O leitor que se interessar mais pelo assunto, leia "Amor líquido" de Bauman). Isso quer dizer que a coisa se inverte em relação ao amor descrito no início. Se entendo e relaciono amar ao cuidar, a concepção vigente na sociedade é a de ser servido. Todos querem ser servidos, e poucos tem a disposição de servir. Servir, como já dito, não no sentido de ser empregado submisso, mas um servir dinâmico, ativo, de dar o melhor de si para "cuidar" de quem ou do que se ama. Isso significa colocar sentimento, não sentimentalismo nas relações nas quais podemos oferecer o nosso "cuidado". Mas como fazer isso se ao ligarmos a televisão, nos acostumamos muito em ver só o lado ruim das coisas e esquecemos de ver as coisas boas, que são muitas? Os noticiários transmitem e geram terror e medo nas pessoas e a sensação de que o mundo está sempre piorando e não há que se possa fazer já que o volume de "problemas" supera em muito o número de supostas "soluções". O ser humano então passa a sofrer descrédito de todos os lados. A palavra jornalismo, pelo que lembro vem do francês "jour", que significa dia ou algo assim. Um dia tem 24 horas. Não é possível que só ocorra coisa ruim. O mundo é lindo. A vida no mundo é um milagre. Quantos bilhões de anos foram necessários para ela, a vida, ser "moldada" de forma que poderia receber e desenvolver BILHÕES de organismos diferentes seja em espécie, gênero, grau etc? Esquecemos de contemplar a natureza, o sorriso, a alegria de estarmos vivos, garantia de que sempre, sempre podemos re-começar a escrever nosso destino.

Pergunto-lhe caro leitor, que enxergas na foto abaixo?


a) Um dia feio;
b) Um céu nublado;
c) Droga, meu fim de semana na praia foi por água abaixo;
d) Nada demais;
e) um lindo arco íris além das nuvens que bloqueavam o Sol e um mar incrível.

Embora venham nuvens grossas tentando atrapallhar a luz do Sol, este produz um arco-íris para além delas. E o povo nessa praia no dia em que fui nela, reclamavam do tempo frio e nublado... perderam a oportunidade de ver um arco-íris bem bonitinho ao vivo. Tanto que muitos ao verem a foto me disseram: Olha... tinha um arco em cima do Sol...

Ao vivo estavam mais preocupados em lamentar o dia aparentemente perdido com a suposta ausência do Sol do que observarem com mais cuidado e perceberem que sempre tem algo belo mesmo nas situações que parecem mais "nubladas". Amar também parece significar ver além das nuvens escuras...

Sérgio dos Santos

Nota: O Sérgio é brasileiro, daí as palavras escritas de forma diferente das nossas... Mas isto, com o acordo ortográfico, passa a ser tudo igual. Assim, vamo-nos habituando :P

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