sexta-feira, 20 de julho de 2012

E os loucos somos nós?

Através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, realizado em 2010, veio a saber-se que Portugal estava entre os países da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. Neste estudo era referido que quase metade (43%) já teve uma perturbação mental durante a vida e que 23% dos portugueses tiveram uma doença mental nos 12 meses anteriores ao estudo. Nesta altura o país estava deprimido. Actualmente, julgo, estará ainda mais.
Uma em cada cinco pessoas sofre de perturbações psiquiátricas, desde depressão, ansiedade, pânico, entre outras. Estas perturbações afectam mais as mulheres, os jovens e as pessoas sós. Por isso é necessário que as pessoas com doenças mentais percebam que não estão bem e que necessitam de tratamento, de acompanhamento.
 O que causa maior impressão é saber que grande parte das pessoas com este tipo de perturbação não está a ser acompanhada por um especialista. Há um preconceito em relação a quem frequenta psicólogos ou psiquiatras. A nossa mentalidade tem de começar a mudar. Quem não sofre ou nunca sofreu qualquer tipo de perturbação mental não só não entende o outro como ainda o despreza e é alvo de chacota.
Uma pessoa com ansiedade, com uma determinada fobia é olhada de lado, como alguém desequilibrado, sem valores, um fraco que ao menor obstáculo desiste...
No consultório os doentes trocam olhares entre si e baixam a cabeça com vergonha. Na farmácia, quando se vai buscar o ansiolítico e o antidepressivo, perguntam: “então mas a mulher anda sempre deprimida? Tem tudo para ser feliz…”. Como se estas coisas da mente fossem simples de explicar.  
O que a percentagem do estudo acima citado vem demonstrar é que os portugueses são um povo retrógrado nestas questões. Não é vergonha querer estar bem, querer tratar da saúde de cada um. É vergonhoso, isso sim, estar doente e não ir ao médico com medo de ser olhado de lado. E este estudo deixa claro esse flagelo: 33,6% de perturbações graves não tiveram qualquer tipo de tratamento. Não se sabe a razão. Falta de dinheiro? Falta de acompanhamento por parte de um profissional? Isolamento?
Portugal além de estar entre os países da Europa com maior consumo de antidepressivos, agora também é líder em doenças mentais, aproximando-se dos EUA. Como se estes países fossem comparáveis!
Os políticos, em geral, dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas, de casos reais. Entretanto construíram um mecanismo que vai triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência psicológica colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
Uma pessoa com o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que não funciona não quer saber de antidepressivos e ansiolíticos, preocupa-se com outras questões mais prementes.
O sociólogo e investigador Garrucho Martins refere que a zona entre Chamusca e Benavente tem taxas elevadas de suicídio devido a uma pressão social, onde “toda a gente sabe a vida de toda a gente, onde todos se conhecem e a vergonha perante situações de desemprego ou dificuldades económicas potencia o suicídio”. Nos últimos tempos as notícias na região confirmam esta tendência.

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