domingo, 4 de dezembro de 2011

SER JOVEM NÃO É FÁCIL, SER VELHO TAMBÉM NÃO

No Público de hoje refere-se que a Segurança Social já procedeu ao encerramento de 86 lares para idosos de Janeiro a Outubro deste ano, número superior ao que se verificou o ano passado. O encerramento decorre da ausência dos níveis exigidos de qualidade de vida para os utentes, em diferentes dimensões.

É importante que a fiscalização funcione assegurando dentro dos padrões razoáveis a qualidade destas instituições.
Este universo, o acolhimento, institucional ou familiar dos velhos é uma questão complexa, como complexa e muitas vezes difícil é viver com a condição de velho.
Há algumas semanas, a imprensa referia que a linha telefónica do Cidadão Idoso da Provedoria de Justiça recebeu durante o ano corrente ano 2142 chamadas. Destas chamadas, cerca de seis por cento estavam relacionadas com maus-tratos. Os restantes contactos abordavam fundamentalmente questões relativas a saúde, o apoio domiciliário, informação jurídica.
Há pouco tempo, um relatório da OMS identificava Portugal como um dos cinco países europeus em que os velhos sofrem mais maus-tratos. Cerca de 39,4% dos velhos sofrem alguma forma de maus-tratos, que envolvem, por exemplo extorsão, abuso psicológico, físico ou negligência.
De facto, nos últimos tempos têm sido recorrentes as notícias sobre os maus-tratos aos velhos, aos seniores, como agora se diz. Quer no seio das famílias, quer em instituições, multiplicam-se as referências à forma inaceitável como os velhos estão a ser tratados.
Não é fácil ser velho.
Começam por ser desconsiderados pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis, transforma os velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência. Continua com um sistema de saúde que deixa muitos milhares de velhos dependentes de medicação e apoio, sem médico de família.
Em muitas circunstâncias, as famílias, seja pelos valores, seja pelas suas próprias dificuldades e estilos de vida, não se constituem como um porto de abrigo, sendo parte significativa do problema e não da solução produzindo cada vez mais situações de solidão e isolamento entre os velhos, com consequências que têm feito manchetes, muitos velhos morrem de sozinhismo, de solidão. Estão em extinção as relações de vizinhança e a vivência comunitária, fontes privilegiadas de protecção dos mais velhos.
É certo que existe, felizmente, um pequeno número de idosos que além do apoio familiar, ainda possuem meios que lhes permitem aceder a bens e equipamentos que contribuem para uma desejável e merecida qualidade de vida no fim da sua estrada.
Finalmente, as instituições, muitas delas, subordinam-se ao lucro e escudam-se numa insuficiente fiscalização não oferecendo a qualidade exigida como se comprova com o encerramento hoje noticiado. Por outro lado, os equipamentos de qualidade são inacessíveis aos rendimentos de boa parte dos nossos velhos.
Lamentavelmente, boa parte dos velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para nenhuma narrativa.


Sem comentários:

Enviar um comentário