quinta-feira, 21 de julho de 2011

O mundo ficou melhor depois do Facebook?

[Fotografia de Rui Pires - Olhares]


Há quem considere que tudo está igual depois do Facebook; que se trata apenas de mais uma ferramenta através da qual a natureza humana continua a fazer das suas - umas boas, outras menos boas. Uma espécie de meio neutro que se limita a permitir o que sempre fizemos: comunicar. Não concordo. O Facebook - como qualquer outra rede social - trouxe-nos algo que nunca existiu antes na História. O aspecto mais evidente é que comunicamos com muito maior frequência e com muito mais pessoas do que antes; recuperamos e re-inventamos o hábito da escrita e da leitura; partilhamos conteúdos como nunca fizéramos. Mas também há frutos claramente negativos: leva-nos à dispersão, porque as possibilidades são demasiadas; leva-nos a banalizar as relações porque esticamos o conceito de "amizade" até à ruptura; leva-nos a contactos cada vez mais epidérmicos porque a multiplicação das relações obriga à divisão do tempo.

A questão tem sido colocada nestes termos: "o virtual é bom ou mau?"; "é possível haver amizades virtuais?". Mas trata-se de uma distinção excessivamente artificial. Além disso, demonizar o virtual desvia-nos do essencial. Proponho que pensemos a relação presencial e a relação à distância como dois modos distintos e complementares. Então estaremos livres para pensar segundo um outro critério:  virtudes versus vícios. Ou seja: devemo-nos perguntar se estamos a desenvolver amizades virtuosas ou amizades viciosas: servimo-nos das redes de relações para nos abrirmos ao mundo e para nos deixarmos desafiar e crescer? ou é apenas para preencher o nosso vazio interior e fugir à dor de estar sozinho? Uma coisa é comunicação - e disso todos somos capazes. Outra coisa é procurar a unidade, a paz, a comunhão. Uma coisa é procurar a gratificação que vem da amizade - e isso todos o fazemos. Outra coisa é estar disposto ao sacrifício - e, nisso, as amizades presenciais pedem muito mais que aquelas à distância. Como alguém dizia: "a amizade testa-se na adversidade". E, no Facebook, há pouco espaço para a adversidade.

Pessoalmente considero-o uma ferramenta espantosa de comunicação: faço o esforço de tirar o melhor do Facebook antes que o Facebook tire o melhor de mim. Mas se, além de espalharmos o nosso "Gosto" por todo o lado, pudermos acrescentar "Comprometo-me pelo teu crescimento", "Não concordo contigo", "Quero contribuir para o teu projecto", "Dou-te uma mão nisso", o mundo será ainda melhor.


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