Vivemos numa sociedade em que cada vez mais a Morte está arredada das conversas devido, não só ao sofrimento que causa, mas também ao facto de nunca ninguém ter regressado para contar como é (quer dizer, Jesus Cristo veio… mas isso é outra história!)… Por mais insensíveis que sejamos, não conseguimos ignorá-la. Faz parte da existência humana e, como se costuma dizer, já cá estava quando chegamos e cá há-de continuar.
Nos últimos dias, a Morte atravessou-se-me no caminho e a presença em funerais tornou-se necessária. São situações que me causam um enorme desconforto: é o sofrimento das famílias e dos amigos, as lágrimas, as roupas pretas do luto, os olhares amargos, as flores tristes… Salvo raras excepções, em (quase) todos os funerais se fala de Vida, mas não vejo nada disso – não percebo! As palavras estão carregadas de optimismo e esperança, mas nada mais...
Há ainda mais coisas que não percebo, nestas coisas de morrer. De cada vez que vou a um funeral, a história repete-se: juntam-se aqueles parentes afastadíssimos que só vêem as famílias nestas alturas e que ninguém conhece. É vê-los numa autêntica maratona para pôr a conversa de anos em dia, em apenas alguns minutos; Junta-se o gang das lágrimas, que compete para ver quem ganha o "prémio-de-mais-lágrimas-choradas"; As “investigadoras” da terra que ficam sempre até mais tarde com o objectivo de consolar a família e descobrir algum pormenor interessante sobre as Vidas ali presentes; Os cavalheiros que acompanham as digníssimas esposas, permanecendo na rua em amena cavaqueira (e chinfrineira) com outros na mesma situação...; Há ainda os mirones! Pessoas que vão só para ver quem também foi, para avaliar quem ganha o prémio das lágrimas e para cortar na casaca de quem fica lá fora. É comum verem-se lágrimas de corcodilo nestes indivíduos;
Ora pois, juntam-se todos e transforma-se uma cerimónia solene num circo, já que muitas das acções levadas a cabo nestes dias não passam de aparências e teatros, sentimentos fúteis e fugazes... Gestos complexos para, simplesmente, inglês ver! Falta de respeito para com o falecido...
É por isso que saio sempre antes da "festa" acabar... Pffff!
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